
O Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) ajuizou uma
ação de tutela de urgência cautelar antecedente contra as Centrais Elétricas
Brasileiras (Eletrobras), a Copel Geração e Transmissão e o Estado de Mato
Grosso. A medida está relacionada à Usina Hidrelétrica de Colíder (UHE
Colíder), localizada no rio Teles Pires, após a constatação de uma série de
graves problemas estruturais e ambientais. Diante desse cenário, o MPMT requer
a elaboração de um plano de descomissionamento no prazo máximo de 120 dias,
como medida preventiva diante da hipótese de eventual necessidade de
desativação da usina.
Assinam a ação cautelar o procurador de Justiça da 11ª
Procuradoria de Justiça e coordenador do Centro de Apoio à Execução Ambiental
(CAEX Ambiental), Gerson Barbosa, a promotora de Justiça de Colíder Graziella
Salina Ferrari, e os promotores de Justiça de Nova Canaã Álvaro Padilha de
Oliveira, de Cláudia Edinaldo dos Santos Coelho e de Itaúba Márcio Schimiti
Chueire.
O procurador de Justiça Gerson
Barbosa explica que o plano de descomissionamento da UHE Colíder é uma medida
preventiva diante da hipótese de eventual necessidade de desativação da usina.
“Caso essa medida extrema se torne necessária, é fundamental que o plano esteja
pronto, tecnicamente embasado e capaz de garantir a segurança das comunidades e
a proteção ambiental. É recomendável que se avalie, com urgência, a
possibilidade de descomissionamento da usina.”
Técnicos do Centro de Apoio Técnico à Execução
Ambiental (CAEX Ambiental) do MPMT identificaram erosão interna (piping),
ausência de instrumentação piezométrica em 14 drenos, falta de peneiras para
análise de turbidez em 55 drenos, além de registros de sobrepressão e
necessidade de escoramento em 10 estruturas. Cinco drenos romperam com
carreamento de materiais granulares e três foram tamponados. Esses dados
indicam risco potencial de ruptura da barragem.
Como medida emergencial, a Eletrobras realizou o
deplecionamento do reservatório, ou seja, reduziu o nível da água para aliviar
a pressão sobre a estrutura. No entanto, essa ação gerou efeitos ambientais
imediatos e duradouros, como a morte de mais de 1.500 peixes, alteração da
qualidade da água, comprometimento da biodiversidade aquática e semiaquática, e
prejuízos à fauna migratória.
O relatório técnico aponta ainda danos anteriores ao
deplecionamento. A UHE Colíder foi responsável pela morte de mais de 52
toneladas de peixes no rio Teles Pires (50.000 em 2014 e 2.000 em 2018, sendo
que em 2017 a quantidade não foi determinada). “Verificados riscos sociais, em
face de problemas estruturais da hidrelétrica, há também prejuízo
correspondente à perda material, com reflexos na pesca, comercialização e
utilização como alimento. Não se pode olvidar dos danos ecossistêmicos
engendrados com a mortandade, além de tudo isso prejuízos para a reprodução das
importantes espécies de peixes existentes naquele trecho”, ressaltou a
promotora de Justiça Graziella Salina Ferrari.
Os reflexos sociais e econômicos
também são alarmantes. O rebaixamento do reservatório comprometeu a atividade
pesqueira, o turismo regional e o comércio local. “Estimativas apontam que,
apenas no município de Itaúba, o setor movimentava entre R$ 10 e 12 milhões por
ano”, explicou o promotor de Justiça Márcio Schimiti Chueire. A medida também
afetou eventos culturais tradicionais, como o “Fest Praia” e o “Viva Floresta”,
além de dificultar o acesso das comunidades ribeirinhas ao rio, prejudicando
seu modo de vida.
Na ação, o MPMT solicita a revisão da licença
ambiental pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). “A operação da UHE
Colíder tem gerado impactos ambientais contínuos e persistentes desde sua
implantação. A revisão da licença ambiental é urgente”, asseverou o promotor de
Justiça Edinaldo dos Santos Coelho.
Os membros do MPMT também pedem a atualização dos
planos de emergência e contingência, a criação de canais de comunicação com a
população, a implementação de sistemas sonoros fixos de alerta e o
caucionamento de R$ 200 milhões para assegurar a reparação dos danos já
constatados e daqueles que ainda possam surgir. “Há dúvidas sobre a
sustentabilidade da usina, tanto do ponto de vista ambiental quanto
socioeconômico, especialmente diante da ausência de planejamento estratégico
integrado para os empreendimentos hidrelétricos da bacia do Teles Pires”,
pontuou o promotor de Justiça Álvaro Padilha de Oliveira.
A UHE Colíder está localizada no rio Teles Pires, na
sub-bacia do Tapajós, na bacia amazônica, com potência instalada de 300 MW e
reservatório de 168,2 km² de área total e 94 km de comprimento. Em operação
desde 2019, ela abrange os municípios de Cláudia, Colíder, Itaúba e Nova Canaã
do Norte. Inicialmente, a titular da concessão era a Copel Geração e
Transmissão S.A. (COPEL). Posteriormente, em 30 de maio de 2025, houve a
transferência da titularidade da concessão para as Centrais Elétricas
Brasileiras S/A.